
Uma trajetória que desde lá atrás, ainda nos seringais do Acre, foi pautada pela coerência – política, ideológica e ética – não podia ter um de seus capítulos cruciais encerrado de forma diferente. Marina Silva não deixa o PT após 30 anos porque ansiava por mais visibilidade ou porque as disputas internas e pressões externas a tiraram do Ministério do Meio Ambiente. Marina deixa o PT porque não se enxerga mais nele, não se vê refletida naqueles homens que envelheceram mal, tornaram-se patéticos arremedos de si mesmos e não têm mais o que oferecer à sociedade. Com sua luta delicada e silenciosa – mas inapelavelmente determinada – por um país menos desigual e mais sustentável, a senadora dá prosseguimento a uma saga admirável de superação e ferrenha dedicação aos próprios princípios, iniciada quando deixou o seringal e a família paupérrima ainda adolescente, analfabeta e doente, para enfrentar a vida em Rio Branco. Se vai ser candidata a presidente é outra história. E talvez um projeto de tamanha envergadura – no qual as concessões e os malabarismos morais se tornam rotina – não seja mesmo adequado ao seu jeito sincero de fazer política. Tanto no aspecto frágil quanto na perseverança, Marina me lembra outro excepcional político lá do norte, o já falecido Jefferson Peres. Pessoas como eles dois, se multiplicadas, poderiam fazer um bem danado ao país. Mas a política, no Brasil, é quase sem exceção uma atividade de escroques, em torno dos quais orbita uma legião de vassalos pouco afeitos ao trabalho. Em suma: um ambiente impróprio para pessoas altruístas, vistas quase sempre como ovelhas negras ou aberrações descabidas. A nossa sorte, se é que podemos falar assim, é que Marina sempre soube transitar por ambientes hostis sem se ferir.
Não sou tão otimista quanto você sobre alguns políticos fazerem bem ao país se multiplicados. Minha descrença talvez seja mais profunda, quem sabe irreversível. Reconheço a distância que Marina Silva possui do lodo, lodo que exala um cheiro forte nas notícias de hoje, do arquivamento do Senado à cara de covarde de Aloizio Mercadante - novamente. Resta saber se ela conseguirá, como você mesmo disse, transitar por esse lodo sem absorver a sujeira...
ResponderExcluirJá me decepcionei muito ao longo desses anos. Demais mesmo. Mas ainda enxergo integridade em certos políticos. Marina é um deles, assim como Jefferson Peres, a quem admirava muito. O problema é essa engrenagem, que aprisiona todo mundo e impede que até gente com uma história digna consiga se desvencilhar do lodo. Mas uma coisa é certa: se tivéssemos mais gente como Marina e menos, muito menos, como Sarney, Calheiros, Collor, Dirceu, Maluf, ACM Neto etc etc.
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