“Na maturidade da vida, você espera um certo descanso, não
é? Você acha que merece isso. Eu, pelo menos, achava. Mas aí você começa a
entender que premiar a virtude não compete à vida. Também, quando você é jovem,
acha que pode prever as prováveis dores e tristezas que a velhice poderá
trazer. Você imagina a si mesmo solitário, divorciado, viúvo, imagina os filhos
crescendo e indo embora, os amigos morrendo. Você imagina a perda de status, a
perda do desejo – e de ser desejado. Você pode até pensar na sua própria morte,
que, por mais que esteja acompanhado, só poderá enfrentar sozinho. Mas tudo
isso é olhando à frente. O que você não consegue fazer é olhar à frente e
depois imaginar a si mesmo olhando para trás daquele ponto no futuro.
Aprendendo as novas emoções que o tempo traz. Descobrindo, por exemplo, que à
medida que as testemunhas da sua vida vão diminuindo, existe menos confirmação,
e portanto menos certeza, a respeito do que você é ou foi. Mesmo que você tenha
registrado tudo assiduamente – em palavras, sons, imagens – você pode descobrir
que se dedicou à forma errada de registro.”
Julian Barnes, em O Sentido de um Fim.