Trabalhar como crítico de cinema me permitiu assistir a filmes que, em situações normais, jamais teria a “oportunidade” de conferir. Uma dessas pepitas, que lembro de ter visto numa cabine quase vazia numa manhã sonolenta, foi Alien vs Predador, um improvável embate entre dois dos mais sórdidos e repugnantes caçadores de seres humanos que Hollywood já produziu. Se me recordo bem, o filme tinha início com uma expedição de astronautas a um planeta distante, no qual as duas espécies alienígenas digladiavam entre si desde tempos imemoriais. Em determinado momento, a única sobrevivente humana da carnificina tinha que escolher entre se aliar ao Alien ou ao Predador: ela estava entre um e outro, acabou se aproximando do segundo e lutou ao seu lado para derrotar o primeiro (engraçado que, escrevendo agora este texto, lembrei de uma cena idêntica em King Kong, quando Naomi Watts toma partido do gorila após se ver entre ele e um tiranossauro – num claro exemplo da Lei de Lavoisier aplicada à sétima arte).
O fato é que nas poucas vezes em que assisto ao horário eleitoral gratuito ou nas muitas em que leio sobre os candidatos às eleições presidenciais e estaduais, me sinto como aquela moça do filme: tendo que escolher entre aliens e predadores. Num cenário inóspito como esse, que caminho seguir? Quem escolher? Nunca votei nulo para presidente, nem vou votar nesta eleição. Mas poucas vezes me vi com tão poucas opções. No cenário local, a situação é ainda mais grave. A quem recorrer para nos tirar deste atoleiro em que vivemos desde tempos imemoriais, se o que vemos é apenas abjeção, obtusidade e desprezo pela miséria alheia? Alien, Predador ou um terceiro vilão à sua escolha? Só o que sei é que – ao contrário da heroína do thriller trash que me vi obrigado a assistir naquela manhã, hoje remota – eu me manterei longe de todos eles, apertando a tecla branca da urna eletrônica e tentando a todo custo escapar ileso dessa carnificina sem sentido e sem futuro.
2 comentários:
Jamais lembraria disso. Não é um filme que a gente guarda na mente com tantos detalhes. Mas valeu a lembrança.
abs
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