sexta-feira, 27 de março de 2009
A vida útil da eternidade
Outro dia estava lendo o ótimo blog de um amigo e ex-colega de faculdade (www.diretodoquarto.blogspot.com) e encontrei lá uma frase linda, atribuída a um sujeito chamado Mario Viana, de quem nunca tinha ouvido falar. A frase é a seguinte: “Nossa eternidade tem a duração da memória de quem nos ama”. Engraçado que ele condensou em uma linha o que eu usei mais de 10 para dizer, num post antigo, chamado Quando a Gente se Chama Saudade, no qual falava sobre o meu pai e o quanto a memória dele dependia da minha e da de outras pessoas que conviveram com ele. Viana foi sucinto e certeiro. Somos eternos enquanto somos lembrados, embora não necessariamente amados. Lembro agora de um episódio que li - e que ficou instantaneamente gravado em minha memória - sobre o amor incondicional que Somerset Maugham devotou à mãe, morta quando ele tinha apenas 6 anos. O escritor morreu aos 91 anos, em 1965, e no seu leito de morte estava o retrato dela: um sentimento que atravessou intacto mais de oito décadas e uma perda que nunca foi superada (pois, de certo modo, somos o que perdemos). Graças aos excepcionais romances que escreveu (O Fio da Navalha, O Destino de um Homem, Servidão Humana), Maugham permanecerá eterno por muito tempo, e consequentemente sua mãe, Edith, continuará sendo lembrada por aquele retrato no leito de morte. Pensando bem, é o amor que mantém, mesmo que indiretamente, a chama da eternidade acesa. Mas é certo, também, que um dia os livros de Maugham não serão mais lidos, e só os mais velhos lembrarão vagamente dele, enquanto a luz se apaga lentamente dentro dos seus cérebros. Toda eternidade tem sua vida útil, depois da qual agoniza rumo ao suspiro final. Feito um idioma que vai morrendo aos poucos, por não servir mais como canal de comunicação junto às novas gerações.
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Um comentário:
"De certo modo, somos o que perdemos". É precisamente isso, meu caro.
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