O que se vê em Lóki é basicamente uma trajetória clássica de ascensão e derrocada, seguida de um tardio esboço de redenção. Mas o que mais me impressionou no documentário de Paulo Henrique Fontenelle, a que só fui assistir ontem, foi a forma brutal e abrupta com que a juventude se viu extirpada da vida de Arnaldo Baptista. As imagens são dilacerantes: primeiro o garoto expansivo, brincalhão e curioso, novo e ingênuo demais para enfrentar as engrenagens que movem o meio musical e incapaz de abarcar as contradições da época em que vivia – no caso, a de um país assolado pela truculência. E depois, quando o fim do relacionamento com Rita Lee e o mergulho estúpido no ácido lisérgico fulminaram a sua inocência, um rapaz ainda novo demais, só que agora devastado pela tristeza e tragado pela insanidade.
A cisão entre esses dois Arnaldos, separados por um curtíssimo espaço de tempo (embora semelhante a uma pequena eternidade), é o cerne do filme. Ninguém prossegue incólume após perder a juventude de uma hora para outra. Precisamos de um processo lento e contínuo, no qual as experiências dos primeiros anos vão sendo sedimentadas pouco a pouco, nos permitindo abraçar com clareza e alguma resignação as desilusões, perdas e descobertas que acompanham a chegada da maturidade. No seu caso, a perda instantânea da juventude ainda o privou da pessoa que amava e, de quebra, da lucidez, num processo que talvez se assemelhe à sensação de ficar paralítico ou cego após um acidente. É muito, enfim. Sua obra – que considero superestimada – reflete dramaticamente essa mudança. Aquelas canções ao piano, de uma tristeza comovente, deixam evidente que o passado não tinha se tornado passado. Estava ali a assombrá-lo permanentemente, como um sonho que não acaba nem arrefece. É possível que o passar dos anos – a queda, o coma e em seguida a abnegação de uma pessoa capaz de amá-lo incondicionalmente – tenha acabado por formar uma fina camada de cicatrização. Mas a ferida está lá. Basta olhar para o seu rosto e ouvir a sua voz para perceber isso.
A cisão entre esses dois Arnaldos, separados por um curtíssimo espaço de tempo (embora semelhante a uma pequena eternidade), é o cerne do filme. Ninguém prossegue incólume após perder a juventude de uma hora para outra. Precisamos de um processo lento e contínuo, no qual as experiências dos primeiros anos vão sendo sedimentadas pouco a pouco, nos permitindo abraçar com clareza e alguma resignação as desilusões, perdas e descobertas que acompanham a chegada da maturidade. No seu caso, a perda instantânea da juventude ainda o privou da pessoa que amava e, de quebra, da lucidez, num processo que talvez se assemelhe à sensação de ficar paralítico ou cego após um acidente. É muito, enfim. Sua obra – que considero superestimada – reflete dramaticamente essa mudança. Aquelas canções ao piano, de uma tristeza comovente, deixam evidente que o passado não tinha se tornado passado. Estava ali a assombrá-lo permanentemente, como um sonho que não acaba nem arrefece. É possível que o passar dos anos – a queda, o coma e em seguida a abnegação de uma pessoa capaz de amá-lo incondicionalmente – tenha acabado por formar uma fina camada de cicatrização. Mas a ferida está lá. Basta olhar para o seu rosto e ouvir a sua voz para perceber isso.
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