John Fante tem um livro chamado 1933 Foi um Ano Ruim. Eu poderia parafraseá-lo e dizer que 2011 foi um ano ruim. Não um ano terrível, daqueles que nos lançam contra nossos medos mais profundos, mas sim um ano sem graça, modorrento e marcado por episódios que preferiria não ter vivenciado. Passei por anos piores, e de cara lembro de três: 1988, 1999 e 2003, cada qual com seus próprios infortúnios. No final do ano passado, escrevi aqui no blog que gostaria de ter em 2011 “um pouco mais de finais de tarde. De ver mais vezes o sol morrendo e a lua nascendo em frente ao mar”. Não tive. Vivi menos do que gostaria.
Por outro lado, é muito difícil encerrar cada ano em compartimentos estanques, sem qualquer ligação com aqueles que o antecederam e sucederam. Mesmo porque, à medida que envelhecemos, os anos cada vez mais se parecem uns com os outros, como se fossem uma única correnteza espessa e opaca, que se desloca cada vez mais rápido rumo a um oceano de silêncio e breu. O que os diferencia é o pouco que fazemos de valoroso em cada um deles: uma viagem, uma ruptura profissional, uma nova relação amorosa. Lembro que aos 14, 15 ou 16 anos cada ano encerrava uma descoberta específica, que podia ser tanto uma epifania sexual quanto um pontapé no coração adolescente. Os anos passavam lentos, cindidos pelos dois períodos de férias escolares. O mundo se revelava com toda a sua apoteose de alegrias, temores, hesitações, triunfos e decepções.
Hoje, quando nos vestimos de branco, bebemos espumante quente e desejamos votos de paz e prosperidade a todo mundo que surge à nossa frente, estamos apenas repetindo um ritual que celebra a vinda de algo que já conhecemos intimamente. Mais do mesmo, com raras exceções. Talvez por isso, não levo muito a sério essas resoluções de ano-novo, promessas inúteis que fazemos a nós mesmos e que sempre acabam na vala comum das recaídas, seja no vício em nicotina ou na acomodação geral. Gostaria, no entanto, de imaginar que 2012 possa vir a fazer parte da lista de anos pelos quais tenho um carinho especial, como 1990, 1996 ou 2000. Um ano gostoso e aconchegante, no qual possa continuar aproveitando a companhia das pessoas que amo, ver minha filha abraçar sem medo a adolescência, ascender profissionalmente e ir para a Europa. Além, é claro, de ter um pouco mais de finais de tarde.