terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Informar é preciso, refletir mais ainda


Toda vez que acesso um site de notícias e me deparo com nacos de informações superficiais, dispostos numa hierarquia sem pé nem cabeça, percebo que ainda vai demorar bastante para que a internet substitua a mídia impressa como fonte principal de informação – é claro que me refiro aqui ao leitor que busca algo além de notas sobre os participantes do Big Brother ou comentários leigos sobre os assuntos mais diversos, e não aquele para quem informar é preciso, refletir não é preciso. Ao mesmo tempo, é curioso notar como os meios de comunicação impressos estão perdidos nessa batalha por segundos de atenção dos que precisam se informar. O mais lamentável na imprensa dos dias de hoje é a derrocada (ao que parece irreversível) das revistas de grande circulação. Empenhada em se firmar como um veículo de direita (detonando, nesse processo, qualquer coisa que esteja direta ou indiretamente ligada ao extremo oposto), a Veja deixou há muito de ser uma revista séria, embora ainda seja a mais completa na sua categoria. Inócua, a Época é incapaz de incutir no leitor a necessidade de comprar a edição da semana seguinte. A Istoé já era (saudade dos tempos de Istoé/Senhor, com aqueles editoriais de Mino Carta que eu não perdia quando era adolescente). Falando nele, tem a Carta Capital, que conheço pouco, mas que nunca me seduziu de verdade. Quanto às revistas mais segmentadas, a Bravo! (que em outros tempos foi uma publicação excepcional) hoje se propõe desesperadamente a pautar o debate cultural, ou ao menos fazer parte dele, sem sucesso. E a Caros Amigos ao que parece optou por uma tática de guerrilha, recheando suas páginas com propaganda de esquerda escrita por dinossauros entrincheirados. A melhor delas, com ótimas reportagens e originalidade editorial, é a Piauí, mas mesmo esta se ressente de um brilho, um charme intelectual que nos faça voltar sempre às bancas para comprá-la.
A informação mais aprofundada, criteriosa e sobretudo crítica é encontrada nos grandes jornais (Folha, Estado e O Globo). São grandes veículos, sóbrios quando devem ser, modernos (em maior ou menor medida) quando se apresenta a ocasião. É impossível, hoje, prescindir de pelo menos um deles, mesmo que você tenha que usar a internet para acessá-los. Porque, obviamente, você precisa saber o que gente como Dora Kramer, Elio Gaspari, Verissimo, Luiz Carlos Merten, Clóvis Rossi, Fernando Calazans, Tostão, Arthur Dapieve, Luiz Orlando Carneiro (este do JB), só para citar alguns de minha preferência, está pensando. E não o que o leitor Fulano de Tal acha de tal notícia. Os homens que pensam a imprensa parecem ainda não ter descoberto que os sites noticiosos da internet (Uol, Bol, Terra etc), assim como a TV, não conseguem ou não estão dispostos (assim como seus leitores de ocasião) a se aprofundar em matérias mais sofisticadas, de compreensão menos didática. Seu diferencial, e eles exploram isso ao máximo, é a informação em tempo real. Um exemplo nítido de jornal impresso rigidamente subordinado a esses novos tempos é o Correio, daqui de Salvador. Em suas páginas, o leitor encontra (à exceção de duas ou três páginas logo no início) basicamente uma versão impressa de notícias pescadas na internet. E o que é pior: desatualizada. Não há análise, reflexão, apenas o fato que você já cansou de ver. É por isso que o quadradão A Tarde ainda leva larga vantagem na disputa. Ainda mais porque sua revista dominical, a Muito, que começou trôpega e insossa, ganhou consistência nos últimos tempos. Mas, claro, estamos falando de outra realidade (não só no aspecto salarial, mas também no preparo intelectual dos nossos jornalistas), e não vai ser hoje nem amanhã que isso vai mudar pelas bancas de cá.

3 comentários:

Najara Sousa disse...

Paulinho, várias vezes abri o Correio achando que era uma edição antiga e, rapidamente, voltava à capa para confirmar a data, a manchete, a foto. Os nossos jornais (revistas também) estão ficando com cara de site e o pior (você tem razão), desatualizados frente à internet. E a mais nova: o jornal El País vai unir impresso e internet. Não temos para onde correr ou ler...

Laert disse...

Paulo,

Infelizmente a rapidez que a internet proporciona trouxe também a superficialidade em boa parte das informações que encontramos nela.
Concordo com você.

Porém, compete a nós descobrirmos onde está o pote de ouro do pensamento inteligente, a cultura séria e a discussão construtiva.

Os que bebem da mesma fonte compartilham o mesmo contexto.

Não adianta ter somente sofisticação quando os leitores (que já são poucos se tratando de Brasil), não conseguem digerir esse tipo de informação ou pensamento.

E também acredito que não há interesse nenhum em mudar esse quadro.

Infelizmente.

Paulo Sales disse...

Laert e Najarinha,
Acho que é questão de tempo até se encontrar um formato interessante para a internet. Mas, como disse no post, acho os grandes jornais nacionais uma boa fonte de informação, com reflexões e análises acuradas e, dentro do possível, alguma credibilidade. É esperar para ver onde a tecnologia nos leva.