Tenho acompanhado com algum desinteresse a guerra deflagrada entre Lula e os principais meios de comunicação brasileiros. Li a declaração do presidente e alguns editoriais, além de ter passado um olho na matéria de capa da Veja. A princípio, todo esse estardalhaço soa como bravatas de parte a parte, embora seja inaceitável que o líder máximo do poder público brasileiro se exponha a papel tão degradante. Afinal, qualquer espécie de cerceamento à liberdade de expressão é deplorável, e vejo em alguns quadros do PT um certo pendor por um mundo perfeito, sem oposição ou mídia independente. Sabemos aonde isso pode levar, embora alguns ainda acreditem que o exemplo cubano é um caminho a ser seguido.
O mais curioso é que essa briga tenha acontecido num período em que a grande mídia me parece particularmente fragilizada. Jornais como Folha e Estadão, os dois melhores do país, optaram por reformas gráficas e editoriais infelizes, sobretudo o primeiro, o que limou em grande parte a possibilidade de análises mais acuradas, com a supressão do espaço para textos mais longos e a opção por chamadas apelativas e recursos gráficos gratuitos. Já O Globo, após longo período se consolidando como uma gloriosa terceira via na imprensa diária brasileira, tem decaído de forma lamentável. E o JB...
No campo das revistas, a situação é bem mais dramática. A Veja há muito deixou de ser uma publicação séria, contentando-se em atacar irresponsavelmente pelo flanco direito, entrincheirando-se em posições eticamente duvidosas. No centro, com uma postura bem menos combativa, está a Época, revista moderna e bem-feita, mas meio modorrenta, que não provoca entusiasmo. E no flanco esquerdo, como herdeiros tardios de Mao ou Fidel, estão a Carta Capital e a Caros Amigos, que lançaram por terra a imparcialidade para abraçar sem meias medidas a causa petista e o neoesquerdismo latino-americano. É uma tomada de posição, sem dúvida, mas – assim como a Veja no extremo oposto – uma posição dura de engolir.
O que se percebe, enfim, é uma imensa dificuldade do jornalismo brasileiro em lidar, de forma lúcida e isenta, com o momento histórico inédito em que vivemos. Um cenário no qual a apatia do eleitorado é diretamente proporcional ao clima de guerrilha declarada entre militância, imprensa e partidos políticos. Tanto a apatia de uns quanto o extremismo de outros se justificam pelo desencanto generalizado com os postulantes à Presidência, governos estaduais e poder legislativo. Um desencanto que se estende, feito uma hemorragia, até a própria noção de estado, cidadania e moral. O que se vê, portanto, é um território de aspecto lunar, desolado e sem brilho próprio, habitado por ideologias caducas e personagens nanicos. Um vasto cemitério de idéias, cheirando a limo e passado.