segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Chamem o Pedro de Lara!
Outro dia estava comprando umas coisas para casa num supermercado que tinha som ambiente (não sei se para entreter ou enervar os clientes). E lá pelas tantas, após uma meia dúzia de pagodes sem pé nem cabeça, reconheci, por trás da interpretação tosca, a letra e a melodia de A Fórmula do Amor, uma baladinha legal que Léo Jaime e Paula Toller cantavam na década de 80. Mas a interpretação profundamente amadora me intrigou. Cheguei a pensar que estavam promovendo um karaokê com os clientes em alguma parte do estabelecimento, provavelmente no setor de eletroeletrônicos. Aos poucos, fui percebendo que aquilo havia sido gravado por um artista profissional (seja lá o que for isso hoje): o arremedo de voz, os instrumentos de contornos sonoros indefinidos, os indefectíveis “sai do chão!” e “vamos nessa, galeeeeera!” deixavam evidente que se tratava de um legítimo integrante do cancioneiro baiano contemporâneo. Então me vieram à mente os shows de calouros que assistia na infância, quando os artistas amadores precisavam demonstrar ao menos alguma afinação, um timbre de voz agradável ou um certo balanço para convencer o auditório de que não mereciam levar o buzinaço. Se não, corriam o risco de ser desancados em praça pública pelos finados Aracy de Almeida e Pedro de Lara, os chatos exigentes de plantão, que se contrapunham aos puxa-sacos que achavam tudo o máximo. Ou seja, mesmo em se tratando de diletantes, havia algum critério, um grau mínimo de exigência para que aquilo não virasse a Casa da Mãe Joana. O “calouro” que ouvi no supermercado jamais passaria pelo crivo de Dona Aracy, do mal-humorado Pedro de Lara ou de qualquer pessoa sensata, assim como essas outras manifestações de mau gosto que dão as caras nos carros com som ligado ao máximo (essa equação não tem erro: a qualidade da música é inversamente proporcional à potência dos altos-falantes). Não que as coisas que a gente ouvia naquele tempo nos programas de calouros fossem lá grande coisa. Mas o julgamento de uma criança é bem mais condescendente com os medíocres. Tudo isso ficou perambulando por minha cabeça enquanto pegava umas folhas de escarola para botar numa lasanha.
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