Toda vez que leio sobre os quarenta anos da chegada do homem à Lua penso na frustração de Michael Collins. Um dos três tripulantes da Apollo 11, ele foi o único que não desceu nem andou pelo satélite, como fizeram Neil Armstrong e Edwin Aldrin. Aprisionado em sua cápsula que circulava a órbita lunar, o astronauta não teve a oportunidade de dar o pequeno passo para o homem, mas o grande salto para a humanidade que celebrizou o colega, elevado à condição de herói de uma geração. Armstrong era amado, Aldrin era querido e Collins... bem, Collins também esteve lá, não é mesmo? Mas, para ser franco, é como se não tivesse estado. Imagino Collins lá do alto, sozinho como um menino posto de castigo pela mãe, vendo pela janela seus amiguinhos se divertirem. Ele não deixou suas pegadas no solo lunar, não pulou feito um moleque com kichute aproveitando a ausência de gravidade, não tirou fotos na imensidão branca para guardar de recordação. É como se ele fosse apenas uma testemunha ocular, e não o protagonista de um grande feito. Claro que sua presença ali era fundamental para que os outros dois pudessem ser resgatados, e o que faço aqui é apenas uma digressão sobre os nossos desejos inconclusos. De qualquer modo, deve ter batido uma melancolia danada, embora ele vá negar isso até a morte. Collins nunca mais voltou à Lua, assim como Armstrong e Aldrin. Não precisava: a história já o tinha abraçado, embora num papel secundário.
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Acredito que não apenas pessoas, mas também nações acabam vendo a história passar na sua frente sem que consigam se agarrar a ela. Assim como Collins, o Brasil teve a sua grande oportunidade. Foi lá pelo final dos anos 50, quando o país parecia viver um caso de amor com seus habitantes. Tínhamos a Bossa Nova, éramos o celeiro do mundo e nos sentíamos predestinados a ser o país do futuro. De certa forma, o conceito de welfare state (pleno emprego, prosperidade econômica, políticas de bem-estar social) aplicado nos países desenvolvidos respingava por aqui, embora embalado com traços de populismo e demagogia. Mas, também como Collins, vimos o futuro chegar pela janelinha da espaçonave sem que nos tornássemos o seu timoneiro, ou pelo menos um dos. Cinqüenta anos depois, o país do futuro ficou no passado, enquanto uma ditadura incompetente e obtusa jogava por terra todas as nossas aspirações, seguida de presidentes ineficazes e adeptos dos panos quentes. Assim como as outras metrópoles do país, o Rio, aquela cidade linda onde Leila Diniz tomava banho de mar com a barriga prenhe à mostra, virou um festival de carnificina. A pobreza quadruplicou, e uma massa de miseráveis erra pelas cidades, refém da violência e do crack, enquanto os mais abonados se endividam ou se corrompem, ratificando a afirmação que uma vez o cineasta Silvio Tendler me fez, de que “os pobres não têm direitos, e a classe média não quer direitos, só privilégios”. Somos hoje emergentes, ao lado da Índia, uma nação que praticamente inexistia quando Tom, Vinicius e João esboçavam suas inquietações estéticas. Ou seja: a história nos abraçou, embora num papel secundário.
Acredito que não apenas pessoas, mas também nações acabam vendo a história passar na sua frente sem que consigam se agarrar a ela. Assim como Collins, o Brasil teve a sua grande oportunidade. Foi lá pelo final dos anos 50, quando o país parecia viver um caso de amor com seus habitantes. Tínhamos a Bossa Nova, éramos o celeiro do mundo e nos sentíamos predestinados a ser o país do futuro. De certa forma, o conceito de welfare state (pleno emprego, prosperidade econômica, políticas de bem-estar social) aplicado nos países desenvolvidos respingava por aqui, embora embalado com traços de populismo e demagogia. Mas, também como Collins, vimos o futuro chegar pela janelinha da espaçonave sem que nos tornássemos o seu timoneiro, ou pelo menos um dos. Cinqüenta anos depois, o país do futuro ficou no passado, enquanto uma ditadura incompetente e obtusa jogava por terra todas as nossas aspirações, seguida de presidentes ineficazes e adeptos dos panos quentes. Assim como as outras metrópoles do país, o Rio, aquela cidade linda onde Leila Diniz tomava banho de mar com a barriga prenhe à mostra, virou um festival de carnificina. A pobreza quadruplicou, e uma massa de miseráveis erra pelas cidades, refém da violência e do crack, enquanto os mais abonados se endividam ou se corrompem, ratificando a afirmação que uma vez o cineasta Silvio Tendler me fez, de que “os pobres não têm direitos, e a classe média não quer direitos, só privilégios”. Somos hoje emergentes, ao lado da Índia, uma nação que praticamente inexistia quando Tom, Vinicius e João esboçavam suas inquietações estéticas. Ou seja: a história nos abraçou, embora num papel secundário.
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