Cheguei a colocar o título no post: Anoitece sobre Tegucigalpa. E em seguida exprimi minhas impressões sobre o golpe em Honduras, manifestando minha indignação em alguns trechos, lamentando em outros o nosso fatalismo, a sina inescapável da América Latina, com seus caudilhos e tipos soturnos ostentando insígnias desimportantes. E concluí que, no caso de Honduras, a história não se repetiu como farsa, e sim novamente como tragédia. E que o já frágil argumento usado pela junta militar para justificar a derrubada do presidente caiu de vez por terra no aeroporto de Tegucigalpa, ao lado de corpos de civis e cápsulas de balas de fuzil.
Escrevi o texto inteiro, reli e me preparava para postá-lo quando parei um pouco para pensar: hoje mesmo, na grande imprensa ou fora dela, vou encontrar análises sobre o assunto muito mais embasadas, com muito mais conhecimento de causa e provavelmente embaladas por textos mais precisos e inspirados do que o meu. A partir daí, comecei a questionar o meu texto, a necessidade de escrevê-lo e até mesmo o verdadeiro sentido deste blog. Por que e para quem escrevo? Uma amiga me disse certa vez que escrevo para mim mesmo, o que é verdade. Mas, se fosse apenas isso, por que disponibilizaria um conteúdo tão pessoal para qualquer pessoa que entre no Google e, por uma associação de palavras, encontre o endereço em meio ao denso emaranhado de informação que povoa a web?
Há, evidentemente, uma inclinação narcisista em criar um blog e provê-lo duas ou três vezes por semana de novos textos em primeira pessoa, a maioria escrita com certo apuro estético, evitando opiniões derivativas e buscando ponderações inusitadas ou ângulos inesperados para determinado assunto. Sei que tenho um número pequeno de leitores freqüentes, entre 15 e 20, acredito, a maioria formada por pessoas que conheço. E outros ocasionais, que de vez em quando digitam o endereço e fuçam o que ando escrevendo. Alguns comentam os posts, outros mandam e-mails, os demais optam pelo silêncio ou a indiferença. Como todos eles, não faço idéia sobre qual é o rumo deste blog. Numa analogia automobilística, ele seria menos um carro de passeio e mais um táxi. Ou seja: seu itinerário não é ditado pelo condutor, e sim pelos passageiros (no caso, os temas que surgem na minha cabeça e às vezes me impedem de dormir sossegado). Sei apenas que o blog é guiado por motivações muito breves, e se passar o dia posso não palpitar mais sobre determinado assunto, como já fiz algumas vezes, deixando o esboço morrer de inanição em algum documento do Word. Também me desobrigo de comentar tudo que ouço, leio ou assisto, a não ser quando me comove ou incomoda. Não quero, aqui, exercitar a arte da crítica, mas sim usar obras de arte ou da realidade como fagulhas capazes de detonar barris de pólvora escondidos nalgum canto da mente, criando clarões que lancem luz sobre o meu jeito, por vezes contraditório, outras vezes insensato, de olhar e pensar a condição humana. Em seis meses de blog, este é um balanço um tanto confuso do que já fiz e do que ainda quero fazer neste pequeno purgatório. Sei apenas que adoro escrever aqui, e espero que os meus parcos leitores compartilhem, em maior ou menor medida, desse prazer.
7 comentários:
Paulo,
Lamente-se ou felicite-se, mas você é um dos cinco ou seis blogs que costumeiramente acesso.
Abraço!
Fala, Paulao! Se depender de mim o blog dura, tou curtindo! Abs!
João e Marcos,
Obrigado pelas palavras de estímulo. Claro que só tenho que me sentir feliz por essas visitas.
Abraços
A saída é caminhar, meu caro. Vá em frente, o rumo irá surgir ao caminhar...
Eu estou sempre por aqui, meu velho. Ler seus textos é um momento de prazer. Abração!
Vamos caminhando. Embora nem sempre o rumo seja necessário.
abraços
Valeu, Paulão.
Grande abraço
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