segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um momento de eternidade


Ontem pela manhã, logo depois de acordar, minha filha me pediu que colocasse um disco do Madredeus. Então ficamos ali, juntos, observando quase em silêncio a voz de Teresa Salgueiro se derramar pela sala. Foram apenas 15 ou 20 minutos sentados no sofá, mas foi como se esse momento se cristalizasse em algum canto do universo, nos alçando à eternidade. Enquanto ela comentava comigo que a cantora era uma soprano e eu respondia dizendo que poucas vezes ouvira um registro tão agudo (e tão lindo), nós permanecemos lado a lado, eventualmente abraçando distraídos um ao outro, como que envoltos numa bolha imune à vertigem do tempo.

Senti uma espécie de epifania, e uma reconfortante sensação de plenitude me invadiu. É provável que, naquele momento, os minutos tenham pairado no vácuo, como uma pedalada no vazio, enquanto uma voz celestial cantava: “Haja o que houver, eu estou aqui. Haja o que houver, espero por ti”. Assim, simples e puro. Ao lado da pessoa que mais amo, eu me senti invulnerável, como se fosse capaz de estancar a sangria das horas. Depois passou, e voltamos ao chão.

Sei que minha filha vai crescer, e que passará por mudanças físicas e comportamentais que mudarão quase por completo aquela criança que estava ali comigo. Sei também que, tal qual um exército inimigo, os fios brancos vão continuar avançando impiedosamente sobre meus cabelos e meu corpo um dia penderá, como um galho seco. Não importa. Momentos como esse justificam a aventura de existir.

4 comentários:

karla disse...

Que texto lindo!!!!! Beijos,

Paulo Sales disse...

Oi, Karla. Que bom que você gostou.
Beijo.

Socorro disse...

Isso é a vida.

Paulo Sales disse...

É o que faz ela valer a pena.
bjs