quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sobre Machados e Rosas


Numa entrevista publicada na última edição da revista Bravo!, Millôr Fernandes expressa uma opinião interessante, porque navega na contramão do consenso, coisa escassa num país onde encontrar alguém com opinião própria e fundamentada (não derivativa, portanto) é tão difícil quanto achar um chope bem tirado em Salvador. Millôr afirma que, se comparado a Proust (“é toda uma dimensão literária”), Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, Machado de Assis seria um autor menor: “Ele não me diz nada”.
Considerar o Bruxo do Cosme Velho o nosso melhor escritor virou um dogma blindado no Brasil, sobretudo agora que se comemora o centenário de sua morte. Qualquer crítica a esse preceito ricocheteia e volta como desprezo e incompreensão dos amantes do lugar-comum. Li seus três principais romances (Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba) e em nenhum deles encontrei a centelha do gênio, ou me deparei com aquela epifania reveladora de que estamos diante de algo sobre-humano. Machado é, sim, um cronista arguto, capaz de observações incisivas e originais sobre o seu meio e o seu tempo. Mas quase tudo que escreveu se tornou datado e me passa uma sensação de enfado. Ao contrário de Rosa, que criou sua mitologia própria e alcançou o eterno em Grande sertão: veredas, romance que, se fartamente consumido lá fora, faria dele um segundo García Márquez. Millôr dedica a ele uma observação impagável: “Guimarães Rosa eu li com certa dificuldade, mas insisti e vi que a dificuldade era minha, não dele”. A cena em que Riobaldo descobre no Diadorim morto e desnudo uma mulher, a mulher que não pôde amar por entender que era um homem, está entre os parágrafos mais pungentes já escritos no idioma português. Pretendo voltar a ele um dia.

2 comentários:

Virgínia disse...

Pô Paulão, to lendo seus posts assim tempo s depois...mas é para isso que serve a internet, né?...para guardar, igual fotografia...
Eu adoro Machado de Assis...eu adoro o jeito que ele analisa a sociedade "de fora" mesmo pertencendo a ela...adora sua ironia... até hoje eu não sei o que é genial... mas eu gostos das coisas que me "espantam" e Machado faz isso comigo...bjs

Anônimo disse...

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