quarta-feira, 22 de abril de 2009

Náufrago


O que mais me comoveu em O Escafandro e a Borboleta foi o lamento final de Jean-Do ao perceber que a vida se extinguia. Um lamento resignado, mas nem por isso menos doloroso, de um homem aprisionado no próprio silêncio, após o derrame que o deixou totalmente paralítico – com exceção do olho esquerdo, sua única via de comunicação com o mundo exterior. Dentro da inútil couraça externa que se tornou o seu corpo, havia o infinito de uma mente perfeitamente consciente, capaz até de escrever um livro, ditado com o piscar do olho a uma das muitas pessoas que cuidaram dele com abnegação pungente. Talvez por isso, Jean-Do agarrava-se à vida como um náufrago. Um naco de vida, é fato, mas de qualquer modo uma vida sua, a única a que teria direito dali para a frente, antes que uma pneumonia o levasse de vez rumo à inconsciência eterna.

Um comentário:

andréa disse...

ainda não assisti o falado filme...sem tempo para as coisas boas...como ler seu blog, que me remete a profundeza da alma...hoje, resolvi me salvar...tou aqui, me deliciando nesse tempo chuvoso a um belo prazer...novos textos para mim...beijoca