sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A perplexidade é um animal em extinção


Quando vejo mais um seqüestro-relâmpago terminar não como um seqüestro-relâmpago, mas com um assassinato – no caso, o de uma mulher de 39 anos –, fico me sentindo como aquele xerife vivido por Tommy Lee Jones em Onde os Fracos Não Têm Vez. Como ele, não consigo reprimir a perplexidade frente ao avanço irrefreável da barbárie sobre o frágil território da civilização. Olho para minha cidade e não a reconheço. Sequer consigo refletir sobre esse avanço, ou sobre o fato de que uma criança de um ano e meio está órfã de mãe por obra não da natureza, mas da estupidez humana. Muito menos me sinto capaz de julgar sumariamente os assassinos, conjeturar sobre o que deveria ser feito com eles (que sequer sei quem ou quantos são): se uma tortura sádica seguida de um tiro na nuca ou 30 anos mofando numa penitenciária com superlotação. Fico apenas paralisado pelo pasmo, emudecido pela exaustão. E com a certeza de que a guerra foi declarada. Parafraseando o título original do filme dos Coen, sou um velho de 39 anos vivendo num país que não me quer, habitado por pessoas que não me entendem. Como o xerife de olhar cansado que Jones personifica tão bem, sinto como se estivesse de saída, prestes a dar lugar a uma nova geração devidamente vacinada contra a violência. Ou melhor: contra a perplexidade.

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