quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

I remember Clifford


Ontem fiquei deitado no escuro, fumando um charuto na rede da varanda, ouvindo Clifford Brown. Poucos músicos de jazz me emocionam tanto (Miles, Coltrane e talvez Thelonious e Peterson são outros) quanto esse trompetista genial, morto aos 25 anos num acidente de automóvel. Sim, 25 anos. Enquanto ouvia o fraseado cálido, impregnado de lirismo e sentimento, dos temas que ele construía amparado por uma orquestra de cordas (o disco é Clifford Brown with strings), fiquei imaginando o quanto Clifford ficaria surpreso ao saber que em 2009, 52 anos após sua morte, um homem no Brasil, e ainda por cima branco, estaria se comovendo com a nobreza e sofisticação da sua música.

Isso porque Brown – negro, discriminado numa terra racista e dotado de poucos recursos financeiros (numa época em que o jazz ainda não produzia milionários, com raras exceções) – morreu sem ter plena idéia da sua avassaladora importância para o curso do jazz nas décadas seguintes, embora já fosse reconhecido como grande em vida. Foi uma influência tremenda para outros trompetistas, embora nenhum toque como ele, formulando frases contínuas sem parar para respirar, como se assobiasse uma canção de ninar.

É claro que não sou seu único admirador nos dias de hoje, e certamente haverá muitos outros daqui a 52 anos. Luiz Orlando Carneiro, o melhor crítico de jazz do Brasil (escreve aos domingos no JB), põe Brown ao lado de Dizzy Gillespie e Wynton Marsalis como os maiores trompetistas da história, à frente de gente como Lee Morgan, Kenny Dorham e do próprio Miles Davis, o mais bem-sucedido de todos eles.

O mais próximo que encontrei do estilo de Clifford Brown foi seu discípulo confesso Louis Smith, também excelente, que tocou com Horace Silver em Newport no ano de 1958 (disco lançado recentemente no Brasil) e gravou um ótimo disco, o Here comes Louis Smith, o qual infelizmente só possuo em versão pirata. Mas Clifford é único. Dizem que era um sujeito generoso, boa-praça, o que não duvido. Seu jeito de tocar era típico de quem estava de bem com a vida. Pena que a vida não estava de bem com ele.

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