terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O fim da estrada é sempre o mesmo


Do que é feito o tempo? Que substância é responsável por esse decorrer que não cessa de horas, dias, meses e anos, arrastando tudo ao redor, sem misericórdia ou compaixão? Por que, por mais que vivamos, nosso tempo sobre a Terra é tão curto? Esses questionamentos, que movem a humanidade desde que ela adquiriu consciência própria, são a matéria-prima de O curioso caso de Benjamin Button, filme de David Fincher baseado em conto de F. Scott Fitzgerald. Apesar de ter lido quase todos os livros de Scott, não conhecia esse conto, que fala de um homem que nasce velho e vai rejuvenescendo com o decorrer dos anos, até morrer na forma de um bebê. Fincher transformou essa história num filme lindo (não há adjetivo mais apropriado neste caso), que mexe profundamente com nossos sentimentos mais primevos. É comovente a forma com que Benjamin percorre solitário a pista de uma estrada, caminhando inapelavelmente para a juventude, enquanto o lado contrário, congestionado, ruma para a ruína física e mental do ocaso. Mas é através do desabrochar de uma relação impossível com a mulher que sempre amou que ele vai perceber que, mais do que qualquer outra coisa, é a solidão que vai acompanhá-lo até o fim. Como é possível amar alguém que percorre a pista contrária, se o cruel processo de envelhecimento de um é espelhado na plenitude física do outro? Montesquieu escreveu que “é uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos”. Nada mais dolorosamente certeiro. Benjamin Button viveu intensamente esses intervalos. Mas a conclusão a que chegou é que, mesmo rejuvenescendo a cada ano, ele passou ou iria passar pelo mesmo processo de quem envelhece: perder quem ama, perder paulatinamente a consciência e, por fim, perder a si mesmo.

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